O universo recomeçou a marcha a diferentes
velocidades.
Seria tão mais fácil conseguir voltar atrás para
sermos vários eus ao mesmo tempo, saber o que fazer e como fazer.
As palavras apareceram no papel, as mensagens
acumularam-se no telemóvel. A maior parte são do Lopes.
O universo recomeçou a sua marcha, inquieto,
instável, com o mesmo insaciável apetite pela destruição.
Nada faz sentido.
O escritor recorda o dia em que Helen o convidou a
entrar. Rui relembra o dia em que a convidou a entrar. As suas obras inacabadas
encontraram-se, de novo, cresceram mais um pouco, de novo.
A janela da sala mostra a cidade de noite,
tranquila, mas diferente. Um universo colorido, vivo, do lado de lá, a ponte,
do outro lado, a rua, um universo paralelo e despido que gosta de se mostrar à
janela, pacífico, belo e mortal.
- Onde será que estive estes últimos dias? Estou na
cama, no sofá? As mãos em ferida, a memória apagada, esquecida. Como me deixei
chegar a este estado? Não consigo raciocinar, pensar, elaborar uma ideia com
sentido. Por onde terei andado estes últimos dias? Para onde foi que me levaste?
Não compreendo estes hieróglifos que aqui escrevi. Isto é um teste, uma prova preparada
pelo universo para me enlouquecer. Como é que eu posso escrever assim? É como se
estivesse a ser permanentemente perseguido, necessitado da minha escrita e das minhas
personagens para me recompor. Só elas me conhecem e sabem quem sou. Preciso de tomar
um banho e ligar à Helen. Tenho de pedir-lhe desculpa pelo meu erro, pela minha
péssima opção. Num outro universo, eu tê-la-ia acompanhado naquele dia ao invés
de optar por escrever. Num outro universo que não estivesse tão próximo deste e
que com ele acabou confundido. Preciso de lhe ligar, tudo ainda é possível.
Nos universos habitam as forças que os tornam violentos
e cruéis, água, fogo, terra, ar e a poderosa matéria negra.
- Estes sonhos, estas cidades para onde me transportas,
são a viva prova disso.
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