Zé Paulo sabe que a sua vida é um bailado
igual às chamas de um fogo aceso debaixo de um céu estrelado, iluminado pela
lua. As estrelas saltaram da concha, e dançam no espaço, num mundo sem fim,
escuro de noite, iluminado de dia. Tempos houve em que ele se entretinha a
contar essas estrelas, durante a noite, e catalogava-as, durante o dia. Queria
descobrir as fronteiras de tudo, e foi então que lhe surgiram as nebulosas,
numa dessas noites frias e escuras. Há muita coisa no céu que é de difícil
medição. O espaço imenso, infinito, com ou sem esquinas, está carregado de
supernovas perturbadoras mas de extrema importância.
Zé Paulo acredita na existência de outros
universos. Estudou milhares de estrelas com características muito subtis, e
centenas de supernovas e de pulsares. Esses estudos confirmaram aquilo que ele já
sabia - tudo o que existe está a afastar-se e a ficar cada vez mais distante. A
descoberta da nebulosa de Andrómeda permitiu calcular melhor os limites do
universo, que se alargaram desde que a distância até essa galáxia foi
calculada. Tudo está tão incrivelmente perto e afastado, e não mais se pensou
da mesma maneira. Onde estão, agora, os limites do universo, as suas
fronteiras? Qual é a verdadeira dimensão e forma do espaço? Como se terá
tornado luminoso este universo com quase catorze mil milhões de anos de idade? Qual
é a rua onde mora, e em que prédio habita? Onde fica, de verdade, o lugar onde
tudo isto acontece, e quais são regras que permitem transformar ficção em
realidade?
Não existe apenas um espaço e um universo.
Tudo é curvo e retorcido, e as dimensões, que não são apenas três, são
prensadas e forjadas em fornos invisíveis chamados buracos negros. O Cosmos é um
espaço curvo e distorcido, com formas e estruturas maleáveis onde as ações
acontecem de forma não convencional.
O universo é inconstante, chega mesmo a
parecer absurdo. Todas as galáxias se afastam e o imenso lençol onde se
aninham, também cresce a uma velocidade inimaginável. Um poderosíssimo buraco
negro atrai para as profundezas do universo o próprio universo onde o buraco
negro habita, tornando ainda mais complexa a compreensão desse fenómeno. A luz
do universo em expansão perde intensidade, tal como as ondas que surgiram nesse
longínquo instante inicial.
O brilho das estrelas que conseguimos
observar é um brilho sortudo e mentiroso. Conseguiu chegar até ao nosso
firmamento, ao contrário da luz de tantas outras. As estrelas e galáxias que
avistamos, são as mais jovens e as que estão mais próximas de nós. Algumas
delas já pereceram, e como a morte é escura, à noite, também o céu se tornou
escuro.
Filamentos de triliões de estrelas unem as
galáxias umas às outras. É uma rede, a maior de todas as redes, mas também ela
já mudou, e tudo se tornará mais sombrio. Esta nossa moradia vai-se alongando,
pois é sugada pelo maior de todos os buracos negros, ao qual alguns chamam de
energia negra.
Zé Paulo sabe, e acredita, que o espaço
entre todas as coisas ficará tão grande e tão vasto, que nenhuma luz o
conseguirá atravessar. É nesse horizonte longínquo, que tudo aquilo que imaginamos
e compreendemos acabará pura e simplesmente por desaparecer.
Mas tudo isto não passa de um conjunto de teorias,
hipotéticas explicações tão doces ou tão amargas como simples enganos grosseiros!
Sem comentários:
Enviar um comentário