Carla é assombrada por um pesadelo debaixo
dos lençóis. Passou muitas noites sem dormir, e acabou por adormecer. As
imagens deste sonho não a deixam descansar. Ela vê-se ao lado da viatura em
chamas, mas não é afetada pelo aparato daquele mundo às avessas. A sua vida
mudou, com a sua vontade, e no sonho vai construindo um gigantesco castelo com
cartas de tarot. Volta a agarrar-se com força ao travesseiro. O colchão onde
repousa passou a ser de palha de arroz, de trigo, de palha de milho forrado com
um tecido áspero às riscas. Há muita comida espalhada pelos lençóis e pelo
chão, talheres esquecidos, guardanapos e bichos que rastejam junto aos pés da
cama. Apesar desta desarrumação, a comida tem um aspeto delicioso. Carla está
cheia de apetite neste sonho, e sente-se febril. Merda de vida a sua que nem os
sonhos a alegram. Alguns miúdos entretêm-se a jogar à bola dentro do quarto,
passam por cima dos pratos, dos talheres, da comida, dos guardanapos e dos bichos
que rastejam pela carpete. Não querem estar fechados entre quatro paredes,
abrem os estores, as portadas, as janelas, e saltam para o exterior dando
pontapés na bola. Que puta de vida e que merda de sonho este! Carla puxa para
junto de si mais uma almofada. Quer descansar, e quer que o pesadelo acabe.
- Os meus sonhos nunca são iguais. Eu,
quando dormia com os meus quatro irmãos na mesma cama, cabeça contra os pés
para melhor lá cabermos, muito me divertiam os sonhos de então. Mas esta
porcaria de sonho, não tem mesmo graça nenhuma!
Sem comentários:
Enviar um comentário