segunda-feira, 6 de maio de 2013

UM SONHO SEM GRAÇA NENHUMA



Carla é assombrada por um pesadelo debaixo dos lençóis. Passou muitas noites sem dormir, e acabou por adormecer. As imagens deste sonho não a deixam descansar. Ela vê-se ao lado da viatura em chamas, mas não é afetada pelo aparato daquele mundo às avessas. A sua vida mudou, com a sua vontade, e no sonho vai construindo um gigantesco castelo com cartas de tarot. Volta a agarrar-se com força ao travesseiro. O colchão onde repousa passou a ser de palha de arroz, de trigo, de palha de milho forrado com um tecido áspero às riscas. Há muita comida espalhada pelos lençóis e pelo chão, talheres esquecidos, guardanapos e bichos que rastejam junto aos pés da cama. Apesar desta desarrumação, a comida tem um aspeto delicioso. Carla está cheia de apetite neste sonho, e sente-se febril. Merda de vida a sua que nem os sonhos a alegram. Alguns miúdos entretêm-se a jogar à bola dentro do quarto, passam por cima dos pratos, dos talheres, da comida, dos guardanapos e dos bichos que rastejam pela carpete. Não querem estar fechados entre quatro paredes, abrem os estores, as portadas, as janelas, e saltam para o exterior dando pontapés na bola. Que puta de vida e que merda de sonho este! Carla puxa para junto de si mais uma almofada. Quer descansar, e quer que o pesadelo acabe.
- Os meus sonhos nunca são iguais. Eu, quando dormia com os meus quatro irmãos na mesma cama, cabeça contra os pés para melhor lá cabermos, muito me divertiam os sonhos de então. Mas esta porcaria de sonho, não tem mesmo graça nenhuma!


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