quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O DIA EM QUE SOMOS A VERDADE


As semanas voavam ligeiras de sábado a sábado.
Os amantes encontravam-se e imaginavam um mundo onde beijos e abraços não fossem pecado.

- O teu coração é doce, meu amor! O teu coração sabe a ginja! – exclamava Anacleto enquanto admirava a bela Isilda.
A pele não engana, o toque, o perfume, e o paladar de quem ama sabe a verdade, e o universo caótico fica mais tranquilo e sorridente.
- Que bom seria podermos viver todos os dias como se fossem sábado. Abraça-me, aquece-me, beija-me, toca-me Anacleto, vem para dentro de mim, agora, não esperes mais. Pode ser que o mundo pare para sempre enquanto permanecermos assim quentes e unidos. Seria tão bom, Anacleto, és tão bom e tão querido.
O jovem padre era apenas homem quando respondia aos apelos de Isilda. O seu coração era doce, sabia a ginja e batia à cadência acelerada da paixão. Os corpos deslizavam um pelo outro, esperançosos. Isilda sentava-se ao colo de Anacleto, à sua frente, e recebia-o com prazer indescritível. Era ela quem o colocava dentro de si, e o aconchegava. Fechava, por instantes, os olhos molhados para melhor o sentir, e colocava as pernas ao seu redor, apertando-o com vigor. Os corpos ficavam assim unidos como se os dois fossem um só.
- Que dia é hoje, Anacleto? O dia em que nos amamos, em que nos transformamos, o dia em que somos a verdade, não é, amor meu? Vem-te, vem-te muito dentro de mim, meu amor, olha como tudo desaparece à nossa volta, como se derretem as paredes do quarto, o teto e o soalho. Olha que nem a nuvens escapam, e nem os sonhos, meu amor, nem os sonhos resistem. Também eles desaparecem com as paredes, o teto e o soalho…vem-te, vem-te muito dentro de mim, isso, isso mesmo meu amor, não pares, não agora, não, não pares, não agora Anacleto, não, não pares, não, não não! … Que dia é hoje? Amor da minha vida, que dia é este em que nos amamos e nos transformamos em quem somos de verdade?
O jovem padre sorria, amava, chorava, abraçava-a como se o mundo fosse acabar, ali, naquele instante. Beijava-a, chamava-lhe sua, afagava-lhe os cabelos perfumados e doces, e os lábios, e os seios, e as nádegas dançarinas, ajeitava-lhe melhor as pernas, elevando-a apenas um pouco para melhor a penetrar, até onde a alma e o coração se fundiam e se transformavam, e o amor, o amor que dizem ser cego e mentiroso, pois o amor salva, salvou-lhe a vida, uma vida que antes nem lhe tinha acontecido.
- E se eu engravidar, Anacleto?
Anacleto passou a conhecer o coração da jovem Isilda. Era doce, muito doce. Sabia a ginja.
 

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