terça-feira, 12 de novembro de 2013

SAIR DEPRESSA DAQUI


-Tens razão. Como sempre, tens toda a razão. Devíamos ser capazes de parar e de encontrar tempo para nós e para os miúdos. Florença, Veneza, Pádua, Verona, Milão, Itália, sem dúvida nenhuma! Sair desta rotina, destes ciclos de trabalho sufocante. Devíamos mesmo ser capazes de conseguir interromper isto tudo, mas como? Saindo pura e simplesmente daqui? E os miúdos crescem tão depressa, tudo à nossa volta cresce e passa tão depressa. Nós nem reparamos, nem damos conta. Até o Zé Paulo anda bem mais sensato do que nós. Quem diria! Mas que merda de dia este, que grande merda! O hospital está com as prioridades todas trocadas, há escassez de alguns medicamentos, as urgências estão um caos e ninguém se preocupa em fazer cumprir as ordens que dei pela manhã. Atingimos o ponto de rutura, mas agora só consigo imaginar os canais, o Rialto, a praça de São Marcos, as gôndolas, a estátua de David, os majestosos corredores dos Uffizi. Tens razão, como sempre. Neste carnaval temos de sair daqui. Por mim, era já agora. Estou farto, fartinho desta merda toda. Se pudesse, era isso mesmo que fazia. Providenciar os hotéis, os bilhetes, umas quantas malas de viagem, e sair depressa daqui. Que se lixe a conferência, o colóquio, que se lixe essa trampa toda. E para “condimentar” ainda mais este dia “memorável”, nada melhor que este atentado junto ao nosso prédio. É ou não é um daqueles dias em que tudo se conjuga para nos irritar?
- O que raio estás tu para aí a murmurar? Agora deste em falar sozinho? Olha lá, já decidiste qual de nós vai mais logo buscar os miúdos? Não te esqueças que a Fátima ficou à beira de um ataque de nervos e que terá de ser um de nós a tratar desse assunto.

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